segunda-feira, 16 de julho de 2007

Cântico dos cânticos (da mulher moderna)

Beija-me com os beijos de tua boca,
porque melhor é o teu amor do que o mais puro chocolate -
acalma minha TPM, mas não traz acne e só emagrece,
ainda que seja pela tristeza de tua espera...
Suave é o aroma do teu corpo,
não importa se é sabonete ou patchouli, chuva ou suor;
como ouro derramado é o teu nome.
Talvez eu já não seja a única donzela; mas, talvez, a única que te ama.
Já as que te desejam...

O meu amado não é mais que outro amado,
afinal, são ambos seres humanos.
É o meu amor que o distingue entre tantos quantos forem;
para outra mulher, ele pode apenas ser mais um.
(Ainda bem...)
Não importa se é branco, negro, vermelho, amarelo,
nem existem alturas, larguras ou carteiras
que não percam a razão quando abres um sorriso...

Vem, ó meu amado! Descubra-se perdido,
neste sentimento que não é fraqueza,
que não é só feminino, que não é só emoção.
Saiamos aos shoppings e praias, interiores e exteriores;
enfrentemos trânsitos, chefes, vizinhos,
filhos, montanhas-russas e o passar fluido do tempo,
mas que nunca nos deixemos levar pela dureza do ciúme,
pelas marcas dos anos, pelas lágrimas das palavras ríspidas.

Vem depressa, amado meu...
Quero ensinar-te tudo o que me sopraste em silêncio ao olhar-me...
Jardins, canteiros, vinhas, cabras, gazelas esgotam.
Mas ainda há o meu universo. Ainda há o teu!

Aí o meu amado fala e me diz: "Cala a boca e..."

terça-feira, 3 de julho de 2007

Uirgo

"I've got you under my skin"...
Rasga-se um pedaço de carne.
Duas consciências sangram, sem se sentir.
Muito tempo. Lágrimas, ilusões, comprimidos,
rugas, rudeza...
e morte prematura.
O que se segue é sobrevida.

Tão fácil desnudar o corpo...
Tão difícil descobrir a alma.

Em completo breu, dispo-me de minha armadura.
Firmo meus pés no chão frio e ativo o calor de minha energia.
Jogo areia nos olhos e ceifo memórias em nome de uma felicidade
que atirei em meu âmago,
louca para encontrá-la outra vez e recomeçar.
Meus desejos me ensinam a brincar de cabra-cega.
Portas e janelas ainda abertas.
Conversas a três, mas onde os outros dois?
Onde mais alguém?
Sou inteiramente eu.

Tão difícil descobrir o corpo...
Tão fácil desnudar a alma.

E anseio na revoada dos meus próprios pensamentos.

Má temática

Vejo conjuntos vazios por todos os lados,
com colunas sempre retas e belas circunferências apicais
[nada naturais],
moldadas pelos ângulos agudos de um conjunto irracional.
Aqui não há lógica.
Também não me vejo.
Não sei se há função em minha razão
(ou será o vice-versa?).
Movo-me na progressão da minha (in)finitude,
que aumenta vertiginosamente
a cada vez que passo por um simples ponto.
Meu humor vira parábolas de onda, e pi-
ro pra manter meu domínio,
enquanto ele se define um número negativo
por causa de uma relação segmentada.
Você não gira, eu também gelo -
ambos bestas quadradas.
Mas assim prefiro, a viver entre juros e juras,
com elementos que, pra mim, são incógnitas.
Ao menos por agora, contemplarei
a simetria existente neste laço
até poder partir pra outro espaço
ou ver real meu desejado universo.

Buraco negro

Cometa errante, ao viajar através das pupilas
Deparei-me com uma distorção no caminho.
O lúdico non-sense atraiu-me,
e, num impulso, ultrapassei sua barreira.
Num piscar d'olhos, já havia sido capturada.
Presenteou com uma venda meus esforços;
a minha cauda - tão bela - sugava em troca.
A superioridade que ostentavas
desesperou-se, ao descobrir tal dependência.
Sob pressão, indiferença, e clausura,
tornei-me estrela - e quase conformei-me.
Ainda brilho, anunciei, e por que vivo
ainda junto a tal ser, cuore em estilhaços?
Explodirei o meu corpo em mil pedaços,
restaurarei minha liberdade perdida.
E, numa supernova, rasguei minha vida...
que em cujo sentido, já não mais existe,
pois hoje pulso, paralítica e triste,
simples anã negra em seus braços.

Pietà

Sangue, lágrimas e lama.
Minha pura e ideal constituição.
Visto-me de dor, sob tamanha escolha
e a pena, odiada, segue-me por todo o caminho,
sob a sombra de um joio.

Meu cajado está fraco.
Só minha Meta e meus joelhos me consolam.
A morte, solução e inimiga,
deixa-me como lembrança a vida;
jamais ajudará.
E sigo com a sensação de nomes trocados.