terça-feira, 21 de agosto de 2012

Tom sur tom

Não há em livros tais cantares tão castanhos
Quais pedras brutas sob águas da cor de chá;
Névoa comum, magia oculta para estranhos,
A qual ainda separa o teu "cá" do meu "lá"...

Se penso que te alcanço, vejo meu engano;
Retrais e voltas, só queres se divertir!
Tua prenda é o que me prende neste plano
Secreto, cujas razões só existem em si.

Lambuza os dedos, e outra vez contempla o ego
Inflado - sempre foi tratado a pão-de-ló.
A culpa é do tal sentimento alheio e cego
Mas a razão tateia; a honra, acaba o dó.

Ouço falares: "Mil canções eu te dedico,
Por ti percorro longas distâncias a pé"
Eu não estou - se queres alguém, te indico;
Segura o freio e engata a marcha ré.

Tua hipérbole passou da validade,
E ainda assim é repetida, por aí,
A fim de que outras almas tomem por verdade
Palavras vãs, como o sonho que comi.

Para evitar feições tristes, deixo mensagem:
Se queres carnaval, pegue um abadá
E cace desventuras em uma pastagem,
Não espere aqui ter quem te espere num sofá.

Sob o silêncio e o caminhar de madrugada
Eu te reparto em rimas e desprezo o pó
Ao tom que arde o coração da alvorada,
Ígneo e claro; outra vez, renasce, o sol.