quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Chega!

Bate, assopra, e me diz: "Relaxa"
Não é na tua boca que minha língua se encaixa
Não aja como se soubesse de tudo
Por sua causa meu volume hoje é mudo

Eu admito: já gritei demais
Mas é difícil me manter em paz
Morando com o autismo, com a amargura
A irresponsabilidade e a usura

Vivo com "fome" e me comporto assim
Pois quero alguém que veja além de mim
Mais que um corpo pra se aquecer
E esperar três minutos pra comer

Para cuidar da casa e pagar conta
E deixar a comida sempre pronta
Mas e o meu gosto? Olhe o meu rosto
Nem me descurvo de tanto desgosto

Esse veneno da misoginia
Me cobra e persegue todo santo dia
"Deixe de exagero!" ou "É a TPM!"
Não é você que se encolhe e treme

De nojo, de raiva, e contempla o absurdo
De habitar um mundo cada vez mais surdo
Que minimiza a visão da mulher
Que ainda nem sempre alcança o que quer

Eu ando no escuro e é difícil sonhar
Só encontro pessoas que me fazem andar
Em círculos, ou desprezam tudo o que faço
Olhares e falas pesam o meu passo

Palavras de carinho e frases de amor
Usadas logo antes de pedir um favor
Já chega! Quero poder seguir, marchar
Confiante e forte, eu quero me achar!

Bate, assopra, e me diz: "Relaxa"
Não é na tua boca que minha língua se encaixa
Minha voz sempre pediu socorro
Mas é tratada, às vezes, pior que a de um cachorro

Eu admito: já gritei demais
Mas é difícil me manter em paz
E é por isso que corro demais
Viver ainda vale todo o gás!