sexta-feira, 4 de março de 2011

O elo (parte de um sonho)

Mais uma noite. "Caminhar em meio a floresta com a confiança de uma lua cheia é como tornar um lençol seu mar mais desconhecido", diz. Ri de sua imaginação para frases frívolas, mas adora quando elas se espalham, ainda mais quando é por todo o seu corpo. Prova um pouco do arrepio e deixa o suficiente pra depois. Diverte-se com a própria sombra de seus pés rápidos, enquanto pensa na torre. Para.

Um canto sibilante chegou aos seus ouvidos. "Eu não consigo me aproximar dos seus pensamentos...". Algo novo! Não era em sua língua natal, mas entendia perfeitamente. "Eu não... consigo... me aproximar...", repetia-se e repetia-se, se tornava mais nítido e choroso. Assobiou de volta, no mesmo ritmo, querendo ajudar, mas não sabendo como. De repente, um "TAP!" o fez estremecer. O barulho era forte demais.

Esticou a vista e viu um amontoado de pessoas em frente a um muro de pedra. Estavam com vestes brancas e encapuzadas, descalças, e pareciam ser todas mui jovens. Uma delas, de estatura tão pequena quanto a sua, estava encolhida em frente a uma mulher mais alta.

"Eu sei que é uma responsabilidade enorme; mas, de nós, sabemos que, desta vez, apenas você pode ser capaz de descobri-lo. É um esforço que precisa ser feito. Todos nós precisamos que o acorde... Desperte, por favor!"

A jovem à sua frente parecia chorar. De onde estava, não via lágrimas; porém, estavam lá. Os outros se dispersavam aqui e ali; uns cantavam, outros procuravam por algo, outros apenas esperavam. Ela afastou-se dos demais, e balbuciava o canto novamente.

Ele sabia que não era em vão aquele desejo. Queria ajudar àquela menina, mas como podia ser útil? Ficara paralisado com apenas o tom de sua voz, sentia-se queimar. Estranhamente, o chão de pedra não parecia mais tão frio quanto antes... mas ainda era frio.

"Eu não consigo..." Chegara um pouco mais perto. A iluminação estava melhor - podia ver sua face. Não havia nada de espetacular: olhos amendoados, pele morena, cabelos escuros levemente desgrenhados apesar de presos, feições simples como as que costumava esculpir, isto sendo o máximo de familiar ou tecnicamente agradável que pudesse pensar... Fechou os olhos e pensou que não conseguiria sair dali. Nem queria.

A brisa soprou o local com força, fazendo algumas chamas das candeias e alguns mantos dançarem; aproveitou-se da distração para locomover-se de novo pra mais perto, subindo até o alto de uma pequena parede de pedra. Ali era confortável, e a tensão tornava tudo ainda melhor. Faltava algo. Assobiou outra vez e sorriu. A mulher bocejara, fazendo alguns dos jovens também bocejarem, e indagarem, e rirem, e se distraírem...

"EU NÃO CONSIGO ME APROXIMAR DOS SEUS PENSAMENTOS"...

"...eu não posso ficar quieto...", ouviu-se. Ele, decidido, e já mui perto daquela menina, sibilou-lhe: "Você pode guardar um segredo?"

Uma luz fraca, porém incomum, iluminou um cogumelo próximo de onde a jovem estava. Ele cresceu, e quanto mais aumentava, a intensidade da luz se tornava mais forte, e fluorescente. Flocos cintilantes como vagalumes caíam do céu. Os demais cantavam, comemorando. Somente ela correu... até ele.

"Eu estava te mandando sinais daqui", disse. "E você ainda não os decifrou", respondeu-lhe. "Vamos?". Fez que sim com a cabeça. Era a hora de recomeçar...

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